Antes, gostaria de agradecer a escritora Maria José, por toda a atenção dada, pela gentileza e pela entrevista fornecida exclusivamente ao blog.
Um muito obrigado!
Maria José Silveira é goiana, de Jaraguá e atualmente mora em São Paulo. Escritora, tradutora e editora, ela foi sócio-fundadora e diretora da Editora Marco Zero. É formada em comunicação, em antropologia e mestre em Ciências Políticas. Começou escrevendo para crianças, na Revista do Sítio do Picapau Amarelo, criando histórias com os personagens de Emília, Narizinho e Pedrinho. Tem livro traduzidos na Espanha e no Chile.
Pauliceia de Mil Dentes, seu sexto romance, marca os dez anos de carreira da autora.
LNM: Você viveu sua infância em Jaraguá, o que você lembra
da sua infância daquela época?
Maria José: Nasci em Jaraguá,
cidade do interior de Goiás, mas fui morar em Goiânia com meses de idade. Só
voltava à Jaraguá durante as férias, para a casa da minha avó. Uma casa que,
então, ficava cheia de primos e primas, tios e tias, e o que guardo dessa época
são lembranças muito felizes de todo tipo de brincadeiras, quintais, passeios,
rios, fazendas, boiadas, cavalos, e a vivência com personagens e histórias
típicas de uma cidadezinha de interior dos anos 50. Muito desse clima e
lembranças já entrou em algumas histórias minhas e é possível que entre em
outras. Tive a sorte de ter uma infância basicamente feliz, da qual uma cidade
de interior foi parte importante, e uma infância feliz é um tesouro que fica
guardado conosco a vida inteira.
LNM: Falando sobre seus personagens, como você os cria? Inspira-se em pessoas conhecidas?
Maria José: Acho difícil dizer exatamente de onde vem um personagem. Deve vir, suponho, de uma mistura complicada de características que vou tirando daqui e dali. Ou então, e talvez mais acertadamente: vêm deles mesmos. De como acredito que eles são ou devem ser. Ou de como eu gostaria que eles fossem. Enfim, os personagens são quem são. Não são nenhuma outra pessoa. Não me inspiro em pessoas conhecidas a não ser, talvez, em personagens de passagem, secundários, e em um ou outro detalhe.
LNM: Em uma entrevista alguns anos atrás você declarou que o brasileiro gosta de ler sim, mas o problema era financeiro, devido ao baixo índice de leitura no Brasil. Você acha que a situação ainda é a mesma?
Maria José: E não é? O livro continua caro porque as tiragens continuam pequenas e o brasileiro continua ganhando pouco (o que tem melhorado, é fato, embora ainda nem de longe o suficiente). O bom é que hoje temos mais bibliotecas, mais eventos literários, mais consciência da importância do livro, mais sensibilidade das politicas públicas. No entanto, ainda falta muito para que a gente possa dizer que o acesso ao livro no Brasil, como um direito básico do cidadão, chegou a ser seu ponto ótimo. Falta muito.
LNM: Seu novo livro, Pauliceia de Mil Dentes, marca seus 10
anos como escritora, o que mudou durante esses anos?
Maria José: O que mudou para mim, como escritora, durante esses anos
foi, evidentemente, adquirir um pouco mais de experiência, um pouco mais de
domínio sobre o processo criativo, um pouco mais de conhecimento talvez do que
vem a ser a literatura, mas no frigir dos ovos, a coisa é sempre a mesma:
quando você começa um novo livro você começa sempre do zero e o risco é o mesmo
do seu primeiro livro: as coisas podem dar certo ou podem não dar. Escrever é
andar numa corda bamba à beira de um abismo: é sempre um mistério e você nunca
sabe se chegará ou não ao final feliz.
LNM: De todos os seus livros, qual foi o mais gostoso de
escrever? Por quê?
Maria José: Faço parte daqueles escritores que adoram seu trabalho. Não sofro
escrevendo, muito pelo contrário. Quando estou escrevendo, fico totalmente
envolvida no mundo dos meus personagens, convivendo com eles, mergulhada em seus
conflitos, em seu cenário, e montando com deleite o quebra-cabeça que me propus
montar. Depois, sinto um prazer ainda maior ao reler, reescrever, ir atrás da
palavra exata, cortar, sentir o ritmo, reescrever de novo. Adoro isso. Esse
processo todo pode durar um ano, dois, ou o que for – e, acredito, é o grande
momento do escritor.
A angústia só me aparece quando, terminado esse processo, ponho o livro
nas mãos do seu primeiro leitor, Felipe, meu marido, e me pergunto: ele vai
gostar ou não, o que vai achar disso, daquilo?
Essa, a hora tenebrosa; a ansiedade indócil; a espera do veredito do
primeiro olhar de alguém que não sou eu sobre o que eu fiz. Nesses momentos de
espera, às vezes me dá vontade de desistir de tudo e ficar quieta no meu canto.
E, assim, sucessivamente, quando meu original vai passando para seus outros primeiros
leitores, alguns amigos e, logo, para o editor. Esperar o “sim, vamos publicar”
é sempre um momento temido, mesmo quando você já tem uma relação de
estabilidade com seu editor.
Mas só bem mais tarde vem de fato o que tem sido o meu maior sofrimento:
quando, depois de publicado, vejo meu livro à mercê do sistema de distribuição
e divulgação nesse nosso país continental, com todos seus inúmeros obstáculos.
É um momento de muita impotência, quando o escritor se dá conta de que já nada
pode fazer para que o livro que escreveu possa finalmente chegar à mão de seu
leitor. Nessas horas, tenho que reunir toda minha capacidade de ficar zen,
pensar em outra coisa, reafirmar a mim mesma mil vezes que tudo que eu poderia
fazer daquela vez já está feito, e escrito. E então, para preservar minha
sanidade, começar a escrever outro livro, reiniciando todo o ciclo.
LNM: Para finalizar, o que você diria para quem sonha em publicar um livro?
Maria José: Se esse alguém não foi desde sempre um bom leito, é melhor esquecer. Mas se foi esse leitor, se sempre foi um apaixonado pelo mundo dos livros, então que escreva, e continue lendo, e escrevendo e lendo. E volte a escrever, e ler, e escrever de novo e de novo ler. E assim para sempre: ler e escrever e escrever de novo e ler.
Do meu ponto de vista, é o único conselho possível e sensato.
Clique aqui para ver os outros livros da escritora.
Site Oficial: http://mariajosesilveira.wordpress.com
Parabéns pela entrevista (:
ResponderExcluirAinda não conhecia a autora, ela aparente ser bem legal!
Abraços.
Entre Livros e Livros.
musicaselivros.blogspot.com.br
Ela um amor viu Natalia, super atenciosa.
ExcluirBjão!
Que fofa a \zutora - adoro autores que dão entrevistas *o*
ResponderExcluirNão conhecia essa autora, mas gostei da entrevista. Adorei o conselho dela para quem quer ecrever livro HAHAHAHA *-*
Um beeeijo!
Pâm
http://interruptedreamer.blogspot.com.br/
O conselho dela ajuda mesmo, eu tenho 2 livros escritos, mas nunca publiquei... rs
ExcluirConhecer autores é sempre bom!^^ Adorei a entrevista e conhecer melhor essa diva! Parabéns.
ResponderExcluirBeijos!
Paloma Viricio-Jornalismo na Alma
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirParabéns pela entrevista! Ficou ótima e a autora sabe muito bem usar as palavras. Adorei as respostas e as perguntas. Tudo muito bem feito!
ResponderExcluirBeijo,
docesabordoslivros.blogspot.com
Eu não conheci a autora e fiquei feliz em conhece-la por meio da entrevista. legal que ela tenha livro pela Prumo, eu curto muito o trabalho da editora :D
ResponderExcluirGislaine,
atualizado, comenta?
Jeito Inédito
{ah, eu tô seguindo. Se quiser retribuir ficarei muito agradecida :D}
Obrigado Gislaine.
ExcluirEstou seguindo também.
Bjão!
Olá, não conhecia a autora.
ResponderExcluirTem meme para você no meu blog. Passa lá!!!
bjs
http://entrepaginasesonhos.blogspot.com.br/2012/12/laco-de-incentivo-leitura-recebi-esse.html
Joyce
Obrigado pelo meme Joyce.
Excluir^^
Bjão!